22.5.01

39. roundup

- Papai, papai.
- Estou com minha filha aqui e ela está parecendo uma hippie.
- Estou feliz agora, papai.
- Fizeram uma lavagem cerebral na menina. Preciso do melhor desprogramador. O mais experiente. Isso, o tal do Juruá-Purus. O quê? Não quero saber, pago qualquer divisa, quero ele aqui agora.

A solução encontrada foi fazer uma espécie de acampamento de desprogramação. No meio da selva, o desprogramador Alfredo Kaapor, visivelmente nervoso, agrupava os tweens no centro da clareira. E alguém visivelmente nervoso no meio do mato sua que é um horror. Kaapor lamentou que seu refrigerador corporal estivesse no conserto e notou, não sem alguma preocupação, que aqueles pré-adolescentes mimados, a vida toda passada num casulo tecno-artificial, que provavelmente não sabiam nem o que era uma vaca, estavam completamente à vontade no meio da mata, não dando a mínima para os mosquitos.
Começou a ladainha do "eu quero ouvir vocês" com uma voz macia calculada.
"O que vocês têm a me dizer?"
"Eu sou um ouvinte..."
"Não estou aqui para ditar regras."
"Mas quero conhecer a história do encontro de vocês."
"O que vocês viram naquele lugar deve ter sido algo intenso e impressionante."
"A natureza disso me interessa, sou um pesquisador, me interesso por novas idéias e culturas."
Assustadoramente, os pirralhos auto-centrados não cederam à massagem no ego. Ninguém disse palavra. Apenas pararam de rir e o olharam, sérios. Uma das meninas mais loiras e lisas achegou-se a ele e estendeu-lhe uma mídia VeriSign.
- Ah... obrigado. - e agradeceu à maneira japonesa, que sabia que estava na moda.
E então ela disse:
- Vê aí.

Nenhum comentário: