10.5.01

41. a garota que se apaixonou por um ângulo

Desde o dia em que M&M vira um senhor bigodudo apoiado no balcão de sua lojinha de tecidos inteligentes, suspiroso, com dois cotovelos gêmeos perfazendo 30o, jamais pôde esquecê-lo. O ângulo. Aferia-os com precisão desde que pusera um optímetro. E apaixonou-se pelo de trinta graus. Dava para entender, disse-lhe o estranho misterioso. Embrenhou por uma comprida explanação matemática, falando a M&M sobre as implicações de sua (dela) personalidade dividida, duas consciências, três personalidades, dois vezes trinta sessenta, três vezes trinta noventa, três vezes dois vezes trinta cento e oitenta. Nada disso a impressionou, tanto que nem lembrou de perguntar a ele como é que sabia de tudo isso sobre ela. Mas foi com ele quando ele pôs sua mão sobre o bar, muito casualmente. Era uma mão de seis dedos finos que dividiam o arco de 180o em cinco partes de 30º. "Eu tenho trinta e três dedos", acrescentou ele, "mas no dia-a-dia só uso doze". Ela não disse nada: pegou na sua mão e foi com ele.

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